Treinamento Neurofuncional

O que é fisioterapia neurofuncional e qual o papel do fisioterapeuta na reabilitação neurológica?

Você sabia que a fisioterapia neurofuncional pode transformar a qualidade de vida de pessoas com lesões no sistema nervoso? Essa especialidade da fisioterapia é essencial no processo de reabilitação neurológica e vem ganhando destaque por sua base científica sólida e pelos avanços tecnológicos que ampliam suas possibilidades terapêuticas (Langhorne, Bernhardt & Kwakkel, 2011).

Neste blog, você vai entender o que é fisioterapia neurofuncional, como ela atua nos diferentes tipos de disfunções neurológicas e qual o papel do fisioterapeuta nesse processo de reabilitação centrado na funcionalidade e na neuroplasticidade (Kleim & Jones, 2008).

O que é fisioterapia neurofuncional?

A fisioterapia neurofuncional é uma especialidade da fisioterapia voltada para a avaliação e o tratamento de pacientes com disfunções do sistema nervoso central e periférico. Ela visa a recuperação da funcionalidade, o ganho de independência e a melhora da qualidade de vida de indivíduos que sofreram eventos como:

  • Acidente Vascular Cerebral (AVC)
  • Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE)
  • Lesões medulares
  • Doenças degenerativas (como Parkinson e Esclerose Múltipla)
  • Paralisia cerebral
  • Polineuropatias e síndromes neuromusculares

A atuação do fisioterapeuta neurofuncional é baseada em princípios da neuroplasticidade, ou seja, na capacidade do sistema nervoso de reorganizar suas conexões para compensar lesões ou adaptar-se a novas demandas funcionais (Cramer et al., 2011).

Abordagem terapêutica e raciocínio clínico

O processo terapêutico na fisioterapia neurofuncional começa com uma avaliação detalhada que considera não apenas os déficits motores e sensoriais, mas também o contexto biopsicossocial do paciente (Wade & de Jong, 2000).

O tratamento é guiado por:

  • Objetivos funcionais realistas e individualizados
  • Princípios do controle motor e do reaprendizado motor
  • Técnicas baseadas em evidências, como o treino orientado à tarefa, a facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP), Bobath, Kabat, entre outras
  • Uso de recursos como biofeedback, realidade virtual, eletroestimulação funcional (FES), órteses dinâmicas e plataformas robóticas (Laver et al., 2017; Mehrholz et al., 2017)

Essa abordagem demanda um raciocínio clínico estruturado e embasado em evidências, que respeite o estágio da lesão neurológica, o prognóstico e os fatores ambientais e motivacionais do paciente.

A importância da fisioterapia neurofuncional na reabilitação

A reabilitação neurológica é um processo contínuo e multidimensional, no qual o fisioterapeuta exerce um papel crucial. Além da aplicação técnica, esse profissional atua como educador, facilitador e mediador da autonomia do paciente, estimulando:

  • O engajamento ativo no processo terapêutico
  • A superação de barreiras funcionais e sociais
  • A construção de rotinas de autocuidado e prevenção de complicações secundárias

Estudos mostram que a intervenção precoce, intensiva e estruturada pode melhorar significativamente os desfechos funcionais e reduzir custos com hospitalizações e dependência a longo prazo (Langhorne et al., 2011; Winstein et al., 2016).

Desafios e tendências futuras

Entre os principais desafios da fisioterapia neurofuncional estão:

  • A escassez de centros especializados e profissionais capacitados
  • A dificuldade de acesso a tecnologias avançadas na rede pública
  • A necessidade de protocolos padronizados para avaliação e acompanhamento

No entanto, a área tem evoluído com o uso de inteligência artificial, realidade aumentada, sistemas de monitoramento remoto e plataformas de reabilitação digital, abrindo espaço para novas abordagens personalizadas (Correia et al., 2021).

Conclusão

A fisioterapia neurofuncional é uma área estratégica para o futuro da reabilitação no Brasil. Com forte base científica e potencial transformador, ela exige do fisioterapeuta constante atualização, domínio técnico e sensibilidade para trabalhar em um cuidado verdadeiramente centrado no paciente.

Na i9 Neuro, acreditamos na ciência aplicada à prática clínica e investimos em capacitação, inovação e tecnologia para oferecer uma reabilitação neurológica de excelência.

Referências

  • Cramer, S. C., Sur, M., Dobkin, B. H., et al. (2011). Harnessing neuroplasticity for clinical applications. Brain, 134(6), 1591–1609. Disponível em Oxford Academic
  • Kleim, J. A., & Jones, T. A. (2008). Principles of experience-dependent neural plasticity: Implications for rehabilitation after brain damage. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, 51(1), S225–S239. Disponível em ASHA Journals 
  • Langhorne, P., Bernhardt, J., & Kwakkel, G. (2011). Stroke rehabilitation. The Lancet, 377(9778), 1693–1702. Disponível em ScienceDirect 
  • Laver, K. E., Lange, B., George, S., et al. (2017). Virtual reality for stroke rehabilitation. Cochrane Database of Systematic Reviews. Disponível em Cochrane Library 
  • Mehrholz, J., Thomas, S., Kugler, J., et al. (2017). Electromechanical-assisted training for walking after stroke. Cochrane Database of Systematic Reviews. Disponível em Cochrane Library 
  • Wade, D. T., & de Jong, B. A. (2000). Recent advances in rehabilitation. BMJ, 320(7246), 1385–1388. Disponível em BMJ Journals 
  • Winstein, C. J., Stein, J., Arena, R., et al. (2016). Guidelines for adult stroke rehabilitation and recovery: A guideline for healthcare professionals. Stroke, 47(6), e98–e169. Disponível em AHA Journals 

Correia, F. D., Nogueira, A., Magalhães, I., et al. (2021). Digital rehabilitation for stroke survivors: A randomized controlled trial on the effectiveness of virtual reality-based interventions. JMIR Serious Games, 9(2), e28619. Disponível em JMIR

Publicado por: i9 Neuro